sábado, 11 de janeiro de 2014

Novo Autor Parceiro: Francisco de Sousa Vieira Filho

Olá galera, mais uma parceria foi formada, ebaaaaaa. Nosso novo parceiro é o Francisco de sousa, autor e poeta brasileiro. Veja mais informações abaixo:


Biografia

Francisco de Sousa Vieira Filho tem 35 anos, é advogado e professor de Direito em faculdades particulares em Teresina e noutras cidades do Piauí. Tem publicados três livros, sendo os dois primeiros de poesia, Lira Antiga Bardo Triste (2009) e Lira Nova Bardo Tardo (2010), e o último de contos e crônicas, CODEX POPUL-VUH – RAMO DE FOLHAS (2013). É formado pela Universidade Federal do Piauí – UFPI e está concluindo mestrado em Direito Constitucional. Escreve desde a infância, mas a paixão pela escrita assumiu contornos mais profissionais em meados de 1998, quando do ingresso na universidade e do contato com amigos que também deitavam palavras ao papel e com quem pôde partilhar desse anseio por fazer envolver os objetos de sentires em indumentária vocabular.

Skoob do Autor: www.skoob.com.br/autor/9558-francisco-de-sousa-vieira-filho

Livros de Poesia do Autor:

               


CODEX POPUL-VUH – Ramo de Folhas

Apenas a sombra do réu permanece presente nas ausências. E antes fosse uma sombra viva, genuína, que se renova com o que de novo traga o dia-a-dia e a convivência, mas não, é uma sombra outra, maculada pelo filtro da memória, mera cópia — a imagem imperfeita e seletiva que temos e fazemos de quem amamos. O amor mesmo não é mais que apenas um sentir ‘nosso’, muito pouco tendo a ver com o outro, com o ser amado. No fim das contas, vivemos todos isolados, e o contato nada mais é que mera ilusão. Cada um de nós vive em sua própria redoma, sua própria caixa. Somos incomunicáveis. E a mente talvez seja esta redoma, esta caixa, este cubo sem janela. Nada pode penetrar, e dela nada sai. Comunicação inexiste. Fazer vibrar na caixa acústica seria talvez nossa pouca, vã e rústica tentativa de romper o silêncio e o isolamento, embora pouca nota diga, ou pouco possa dizer. Nada sai, nada pode penetrar. Sola mente só. E é certo que os cubos, por vezes, podem até arranhar um ao outro. Mas o barulho e o rangido que produzem inda dizem pouco, muito pouco.


Imagens Promocionais:






Nota do Autor

Na significação do título desta obra reside toda a razão de sua feitura e sua pretensão mais oculta. CODEX POPUL-VUH era o nome dado a um livro Maia que continha as raízes do conhecimento ancestral daquele povo; ou, pelo menos, as explicações míticas para as origens de tal sabedoria. Tal nome poderia ser traduzido simplesmente por Ramo de Folhas. Seria esta a ideia inicial de título que quis dar a esta obra, porque é exatamente isso que ela é: um ramo de folhas. Nada mais.
Muito comumente, imerso nos automatismos da vida cotidiana, o homem dos dias atuais busca “a verdade” nas teorias mais complicadas, nas teses mais esdrúxulas, no saber menos provável. É essa a cegueira que nos atinge em cheio, a de buscar a felicidade nos lugares em que ela não habita. Em melhor palavra, diga-se haver um único lugar onde a verdadeira felicidade pode repousar: no íntimo de todo e de cada homem. Por ser sentimento, não se centra nos outros, nas posses ou em qualquer coisa que haja de exterior.

“Amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo (...) Façais aos outros aquilo que desejaríeis que eles vos fizessem”. Toda a Lei e os profetas podem ser resumidos em tão poucas palavras, já disse o Mestre. Entretanto, o que é simples sempre nos pareceu por demais complexo; e o complexo sempre se nos afigurou mais provável e possível que o são todas as Leis que regem o Cosmos.
De uma tal forma, pensei esconder sob a carapaça da complexidade — tão facilmente seduzidos somos por ela — umas poucas lições de sabedoria, com as quais ainda luto por aprender e exercitar, mescladas, aqui e acolá, com algum rudimento de arte. É o que venho ofertar aqui: este pequeno ramo de folhas, cujas raízes guardam profunda base no solo fértil da fantasia, do mito e da parábola.

Os textos aqui apresentados, à exceção de Perspectiva e Só.la-mente, A Insustentável Leveza do Não-ser, Sobre Tendenciosidade, Folha em Branco ou com Algo Escrito Nela?!, Medo e Dominação, e o Mistério da Vida, escritos entre 2002 e 2012, tanto contos como crônicas, foram escritos entre os anos de 1998 e 2005, a maioria dos quais ainda quando frequentava os bancos da universidade, de modo que só agora julguei melhor publicá-los.

Quanto ao gosto pelos contos, ele se justifica por bem mais, mas talvez isto baste — ou ao menos satisfaça por hora: costuma-se dizer da poesia, seja a proscrita das artes, aquela que mais à margem se quedasse; e, julgo, tal pouso caiba mais adequadamente ao conto [mais até que à crônica]. É que só intensifica o brilho poético o espaço que lhe reservaram nas sombras; já, aos contos, poucos, em terras de cá, têm se dedicado a contento. Via de regra, existem apenas duas figuras: a do poeta e a do escritor. E escritor — dizem — é aquele que devassa longas trajetórias, com obras de fôlego. Às narrativas curtas, reserva-se o limbo. Não, não posso negar, todos nós nutrimos aquela sanha de torcer pelo lado mais fraco — eu, não menos. A despeito disso, escritos são escritos e rotulá-los só empobrece. Inibe, por exemplo, se possa ser poético na prosa, ter a acuidade do cronista na poesia, escrever sem rótulos que possam aproximar o escrito de um ou outro gênero, ou mesmo, por exemplo, que se faça poesia liberta de entraves da forma, da métrica, da rima, etc. — donde impera até certo preconceito à poesia experimental e à prosa poética. E tudo isso nada mais constitui que cativeiro e amarra. Estilo também não é outra coisa senão cativeiro e amarra. Sim, estilo define, confere identidade, é como uma assinatura. Lutamos, com afinco, por conseguir um estilo, uma identidade, uma marca, uma assinatura, e, ainda assim, após conquistarmos esta assinatura pessoal, precisamos ofertar dobrado esforço para nos livrarmos dela. Subir uma montanha não prescinde de ter de descer, de querer voltar pra casa, mesmo que seja pra dizer da façanha feita. Estranhamente, aí, o caminho de retorno é mais árduo que o da subida íngreme.

E, penso, transitar entre o sagrado e o profano, sem amarras quaisquer, tendo apenas — talvez — a razão e a intuição como guias,
é o que constitui o cerne da presente obra e a profissão de fé mesma deste escrevedor. Seria este o meu jeito particular de lutar contra o estilo: exorcizá-lo, gastando-o até a última gota.

Francisco de Sousa Vieira Filho
----------------------------------------------

De Tinta e Cunha

À guisa de explicações quanto ao porquê de se escrever...

Nem tudo precisa de um porquê. Nosso modo Ocidental [de pensar, de agir, de viver] quer sempre buscar por um — um porquê, uma razão, uma ordem, uma lógica. Queremos uma seta, uma mira e um alvo. Queremos um móvel e um motor. Queremos um destino [e vejam o desatino], não apenas isso, não apenas fim, mas começo e meio também. Queremos o caminho fácil, traçado no mapa da ilusão, e que haja tesouros ao fim da jornada sem-fim. Queremos a certeza num universo de incertezas.
Mas, sim, neste caso específico [dos contos], como igualmente na escrita em geral, há de haver bem um porquê — e, com um, quero dizer sejam vários [desvarios, melhor se diria]. A resposta fica a depender do momento, do texto, do estilo, do que mexe, do que move [e do que nos move também]. E daí o porquê de dizer já não mais diria apenas um, mas alguns [porquês].

Ora escrevo por catarse, pra purgar e expulsar. Externar seria muito comedido pra poder expressar a pungência da ideia. Ideal mesmo seria: “botar pra fora”. Escrever aí é terapia. A intenção é a de, quem sabe, olhando no espelho do mundo o que outrora dentro esteve [e que, por vez, ainda está], possa então melhor analisar, divisando os meandros do que se extraiu. Ainda que, por vezes, o que se extraia seja horrendo; por vezes, belo; por vezes cause choque e espanto; por vezes seja apenas vômito a ser rejeito; mas que, por vezes, é ainda pedra bruta a lapidar na alma. E, por meio de tal análise, seja lá o que vier, sonho, possa então, um tal procedimento viabilizar a cura. Ora escrevo só pra mim, por puro prazer, por gozo e pela arte — pelo puro e lúdico gosto de apenas brincar com as palavras [e até mesmo com os sons], tal qual
num jogo, num duelo que se trava em meio ao abismo que há entre o símbolo e a ideia. Ora escrevo pros outros, pela paga de um simples e bobo elogio, e ainda pra cutucar, pra mexer, pra ‘causar’, pra chamar a atenção, pra gritar e até pra acordar [ainda que a mim mesmo]. Ora escrevo por exigência — ‘ossos do ofício’ — pra convencer, pra defender, pra proteger e pra turvar, pra nublar e ocultar, pra mentir e enganar [embora, reconheça, a arte engane mais — e bela seja, ao menos]. Ora escrevo, porque, sinto, faz parte do que sou [e cause estranheza talvez o fato de que alimento seja algo de que se nutre, algo que adentra, algo de que se constitui e passa a fazer parte] mas é dela [da escrita] que por vezes me alimento [embora de mim é que ela advenha — Advém? — Torço, não seja excremento]. Escrever é então uma necessidade — tal qual a de respirar. E nem sempre dá pra parar a despeito dos imperativos do dia-a-dia a berrarem sua maior urgência, pois a urgência maior é viver a alma em seus longos haustos. Escrever, aí, é desnudar-se — e se é para fazê-lo, que seja sem pudores [inda que o que a nudez revele nem sempre seja belo ou digno de apreciação]. Ora escrevo porque quero me ‘desmecanizar’... o labor da escrita corta fundo na alma e faz fluir o que há de mais genuíno, menos maquinal, desnuda a ponto de rasgar não apenas vestes, mas a própria pele, músculos e nervos, arranhando ossos e despindo os véus da alma, nos deixando nus para nós mesmos, refletindo no espelho nossas fraquezas, ânsias e medos, revelando nossa pequenez, mas também nossa grandiosidade... cabe dizer, repetição, treino e prática [bem-vindos e positivos sempre] nos fazem automatizarmos certas ações; tornamos tais ações intuitivas a ponto de não precisamos mais pensar para fazê-las; entramos numa espécie de transe, e elas simplesmente acontecem, porque talvez o corpo já tenha decorado os caminhos que a mente [quem sabe seja a alma ou o coração] tantas vezes percorreu e lhe ditou... rotina, não, rotina é outra coisa, rotina é ruim, rotina é mecânica, e rotina cansa... se [erro tina], pre.firo mar... todos os dias precisam ter aquilo de diferente pra sentirmos que o tempo passa... doutro modo, acordaríamos, certa feita, e descobriríamos que estamos velhos, que nada fizemos da vida e que a morte logo espreita. E é por isso que escrevo, porque quero fugir da rotina de mim e descobrir o meu estranhamento de todas as coisas, a contrastar com esse intuitivo senso de pertencimento a tudo — e quero descobrir o quanto minha alma é estrangeira para mim mesmo e quanto tenho de lar em toda parte. Ora escrevo, porque então é a letra que impera e a voz íntima que comanda. E como se me ditassem as palavras que me vêm da mente, assim elas são. E tão belas e fortes em ímpeto de ideia, que mal as mãos se prestam a tão rápido transcrever os signos, as rimas ou as metáforas sem que a mente a tudo perca. E ora escrevo só, pois ora escrever é oração [ora, ação da boa é daquelas que se faz em silêncio e em só.lidar]... E ora escrevo, pois palavras são somente símbolos e nada além — e mais importam as ideias a que elas palidamente tentam se reportar e representar, ocultando-as sob o véu e a máscara. Escritos, sejam lá quais forem, falam quase sempre do que não podemos transmitir a outrem com nossos signos primitivos. E ousar escrever é reconhecer, sem frustração, nossa incapacidade de comunicarmos certas ideias e sentimentos — e, sobretudo, perceber, haja beleza nisto. É por isto que ora só escrevo e sem mais: sem razões, sem instâncias que lhe confiram mote, ordem ou direção — motor, móvel ou pulsão. E escrevo porque há uma mágica, e as palavras são como runas que nos transportam para outros mundos, nos conferem dons que nem imaginávamos possuir e nos aproximam dos deuses. Ora só escrevo... e chego a bendizer, quando não a amaldiçoar, não o dia em que os Fenícios fizeram traçar mágicos signos em forma de cunha em suas pequenas tabuinhas de barro, do mesmo barro de que fomos feitos [sendo então co-criadores de uma criação sem-fim, o Criador se dando a conhecer pelas criaturas, como a árvore se dá a conhecer pelos frutos], mas o dia, aquele perdido dia, oculto na noite dos tempos, em que um bando de primatas ousou misturar os sumos de flores e frutos pra registrar vida e o que quer que seja — em cores vivas — nas paredes de suas cavernas... “Escrevo porque o instante existe...” e desejo imortalizá--lo, e até mesmo o que nem exista ‘ainda’, e a quem interessar possa...

Teresina, madrugada serena de domingo, 13 de Junho de 2010 — 04:31h.

Francisco de Sousa Vieira Filho
----------------------------------------------

Post-Sriptum: Diz a Bíblia “nem só de pão vive o homem...” e eu leio com a avidez de quem busca alimento, de quem busca o pão de cada dia, com a acuidade de quem vai à caça. Bem, sei que por vezes comemos cada coisa! E há até quem se sinta desestimulado, porque quanto mais se lê, invariavelmente, mais se descobre que outros falaram, exatamente, aquilo que se gostaria de ter dito, ou como gostaria de ter dito. Uma prova, talvez, do liame invisível entre as almas. O certo é que eu não os compreendo bem, porque quanto mais leio, mais vejo quão infinitos horizontes há por serem escritos — e isso é sobremaneira reconfortante. As palavras estão lá, pairando no imponderável, e esperando serem pescadas, pescadas “por pescadores do rio d’alma”. E parece haver uma necessidade inarredável no espírito humano [uma?!], a de suprir o profundo vazio e a gigantesca incompletude que se sente. E é uma incompletude tal e um vazio tamanho, que mesmo talvez a plena comunhão com todos os seus pares, provável, não saciasse tal necessidade. Seria preciso talvez uma comunhão cósmica com tudo o que exista e, provável, até mais. E é desse vazio que parece[!] surgir a [co-]criação de tudo o que perpassa pela mão humana. “E no princípio havia trevas...” e o que surge vem para extirpar a treva, causar-lhe alguma chaga ao menos, ferir sua pele turva e, quem sabe, trazer alguma luz de algo novo, de algo que, se não supre o vazio, dá alento, preenche, é paliativo, um remédio provisório que ninguém oferta, senão com o profundo desejo de modificar o mundo e a realidade que o rodeia, ignorando até — veladamente — não possa fazê-lo senão mudando a si mesmo, sua própria realidade interior... é por uma tal razão que me quedo aqui — sedento — à espreita destes ventos de mudança.

Francisco de Sousa Vieira Filho
------------------------------------

Nenhum comentário:

Postar um comentário