domingo, 30 de outubro de 2016

[134] Resenha: O Feiticeiro de Terramar | Ursula K. Le Guin


Título: O Feiticeiro de Terramar
Série: Ciclo Terramar (Livro 1)
Autor(a): Ursula K. Le Guin
Editora: Arqueiro
Páginas: 176
Saiba Mais: Skoob
Sinopse: Há quem diga que o feiticeiro mais poderoso de todos os tempos é um homem chamado Gavião. Este livro narra as aventuras de Ged, o menino que um dia se tornará essa lenda.
Ainda pequeno, o pastor órfão de mãe descobriu seus poderes e foi para uma escola de magos. Porém, deslumbrado com tudo o que a magia podia lhe proporcionar, Ged foi logo dominado pelo orgulho e a impaciência e, sem querer, libertou um grande mal, um monstro assustador que o levou a uma cruzada mortal pelos mares solitários.
Publicado originalmente em 1968, O feiticeiro de Terramar se tornou um clássico da literatura de fantasia. Ged é um predecessor em magia e rebeldia de Harry Potter. E Ursula K. Le Guin é uma referência para escritores do gênero como Patrick Rothfuss, Joe Abercrombie e Neil Gaiman.

Terramar é uma região de um mundo fantástico, onde existe magia e criaturas incríveis, cujo território é formado inteiramente por ilhas. A muito tempo nessa região, existiu um mago muito poderoso chamado Ged, até hoje seus feitos são lembrados. Em O Feiticeiro de Terramar, conheceremos o começo da jornada deste herói, que já foi um jovem rebelde e inexperiente.

Em uma aldeia na ilha de Gont vivia o pequeno Duny, filho do ferreiro da aldeia. Ele perdeu a mãe muito cedo e isso contribuiu para que fosse um jovem rebelde, que estava sempre passeando por campos e bosques. Um dia, ele viu a sua tia, que era a feiticeira da aldeia, dizendo palavras estranhas para controlar um cabrito. Enquanto pastoreava algumas cabras, ele usou as mesmas palavras e viu os animais correrem ao seu encontro, mas algo sai errado e ele acaba tendo que fugir do rebanho. Sua tia vê a cena e salva o garoto, percebendo que ele possui uma grande vocação para a magia, ela o toma como pupilo e lhe ensina tudo o que sabe sobre magia, como fazer poções, controlar animais, etc, logo o garoto acaba adquirindo o apelido de Gavião, por estar sempre em companhia de alguma ave de rapina. 

"Para que uma palavra seja dita é necessário silêncio. Antes e depois."

Certo dia, a aldeia de Duny é atacada e ele usa uma magia para controlar um nevoeiro, confundindo os inimigos para o povo da aldeia contra-atacar, porém ele acaba por extrapolar suas forças com o feitiço e fica muito doente. Dias se passam e a notícia de seu feito se espalha, trazendo à aldeia um visitante, que se apresenta como Ogion, o maior mago da ilha de Gont, ele cura Duny e o convida para ser seu aprendiz após o seu 13º aniversário, que é a data que define a passagem pra vida adulta. Quando o grande dia chega, Duny recebe de Ogion o seu verdadeiro nome, que é Ged, mas passa a ser conhecido somente como Gavião, visto que ninguém deve revelar seu verdadeiro, pois saber o verdadeiro nome das coisas é o segredo da magia de Terramar, assim as pessoas são capazes de controlar algo somente conhecendo seu nome.

Ged se torna aprendiz do mago e aprende muito com ele, mas um acontecimento sombrio acaba fazendo com que Ogion envie seu aprendiz à ilha de Roke, onde encontra-se a escola de magos de Terramar, para que o mesmo aprende com os grandes mestres as artes mágicas. Ao chegar na ilha, Geb fica intrigado com o local e mais ainda com a escola de magia que fica lá, com o tempo ele aprende e desenvolve suas habilidades, tornando-se um dos alunos mais notáveis. Entretanto, ele também se torna muito arrogante e essa arrogância vai levá-lo à um ato rebelde e estúpido, que desencadeará uma sequência de acontecimentos sombrios que marcarão para sempre sua jornada.

"Ele sentiu frio. Ao olhar por cima do ombro, viu que havia algo agachado ao lado da porta fechada; uma massa disforme de sombra mais escura que a escuridão. Parecia estender-se na direção dele, murmurar e chamá-lo num sussurro; mas ele não compreendia as palavras."

Quando soube do lançamento de O Feiticeiro de Terramar, não pensei muito antes de solicitá-lo à editora, visto que eu não leio muitos clássicos e vi nesse livro, escrito em 1968, a oportunidade de me aventurar em uma experiência nova, que foi no mínimo bastante satisfatória. A começar pela escrita de Ursula K. Le Guin, eu pensei que o livro teria uma linguagem no mínimo complicada antes de lê-lo, mas no decorrer das páginas não senti dificuldade alguma na leitura, tudo é descrito de forma bem direta e a leitura decorre rapidamente, o que é incrível, visto que o livro possuí pouquíssimos diálogos, já que a autora foca muito no desenvolvimento do protagonista.

E sobre o jovem Ged, ele é um dos pontos fortes no livro. Já começamos a leitura sabendo que ele se tornará um grande mago, mas vamos conhecendo o começo de sua jornada, onde ele era um jovem rebelde e falho, possuía defeitos e errava muitas vezes, mas isso só o impulsionava a melhorar e evoluir, a personalidade dele é muito trabalha no decorrer da história e sua evolução é muito perceptível. Suas semelhanças com os protagonistas de fantasias atualmente é notável, mas a autora escreveu a história em 1968, onde os magos da literatura eram homens já idosos e sábios, mas esses magos um dia foram jovens e rebeldes também. A partir desse principio, Ursula criou seu protagonista, sendo uma pioneira nesse tipo de narrativa.

“Nunca lhe ocorreu que o perigo ronda o poder como a sombra persegue a luz? A feitiçaria não é um jogo que jogamos por diversão ou para receber elogios. Pense nisso: toda palavra, todo o ato de nossa arte, é falada e é feita para o bem ou para o mal. Antes de você falar ou fazer tem que saber o preço a pagar.”

Ursula também quebrou padrões com esse livro, pois tanto o protagonista quanto os povos de Terramar possuem a pele em tons escuros ou negros, em uma época onde quase todas as histórias traziam personagens brancos. Terramar também é um universo bem vasto e interessante de conhecer, o seu sistema de magia também é bem original, funcionando através do conhecimento do nome verdadeiro das coisas e tentando sempre manter o equilíbrio de tudo. Apesar disso, a magia não está presente de forma marcante no livro, ele está lá ao redor e por vezes é usada, mas não chega a ser como as fantasias atuais, que trazem a magia usada de forma extrapolada e sendo o centro de tudo. Além disso, ele também se difere das fantasias atuais por não possuir uma divisão de BEM e MAL, não existem guerras ou conflitos em Terramar, não existe um lado certo e um errado, o livro mostra que o mal faz parte do interior de cada um e que precisamos saber mantê-lo em equilíbrio com o bem.

O Feiticeiro de Terramar é um clássico da fantasia, com um universo rico, um sistema de magia muito interessante e um protagonista real e bem desenvolvido. Com este primeiro volume de uma série de cinco, Ursula K. Le Guin se firmou como uma ótima autora para mim, mostrando que um livro de fantasia não precisa de grande guerras e conflitos para se sustentar. Estou ansioso pelos próximos volumes e já pretendo ler outras obras da autora!





13 comentários:

  1. Olá, José. Tudo bem?
    É sempre tão bom ver jovens gostando de ler e divulgando literatura, fico tão feliz *.* Parabéns!
    Então, eu quero muito ler esse livro, não o solicitei quando foi lançado porque minha lista de livros que eu queria ler e resenhar já estava prontinha, o blog estava focando em romances de época então..
    Mas quero ler e vou, ainda mais depois dessa sua resenha. Depois dos romances o gênero fantasia é o meu preferido, amo. Obrigada pela dica de leitura, gostei mesmo de suas impressões sobre a obra \o
    Beijão!
    Viviane

    http://vivianeblood.blogspot.com.br/2016/10/resenha-historia-de-nos-dois-dani-atkins.html

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  2. Ainda não conhecia o livro e fiquei bem interessada em função das considerações que você passou na resenha. Primeiro, que no gênero fantasia, está bem difícil ser original, mas este aqui me passou ser uma história diferenciada.
    Valeu pela dica.
    MEU AMOR PELOS LIVROS
    Beijos

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  3. Olá eu ainda não conhecia esse livro, mas de cara me encantei com a capa. Achei ela de extremo bom gosto e bem feita!. Gostei de saber que é um livro bem construído, por causa disso, pretendo dar uma chance a ele mesmo não sendo um gênero literário que vendo lendo ultimamente. Beijos

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  4. Olá!
    Eu sou suspeita para falar, pois amo fantasia. Justamente por isso não me conformo por não conhecer esse livro, como assim? hehe

    Gostei da premissa, da capa e pela sua resenha ele é ótimo, sendo um clássico do gênero eu não poderia esperar nada a menos, não é?
    Quero esse livro pra ontem!!!

    Abs e parabéns pela resenha ^^

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  5. Oi!
    Adoro livros de fantasia e estou de olho nesse desde que foi lançado. Já ouvi muitos elogios à autora e quero muito ler a obra para poder ter uma opinião sobre todo o conjunto. Adorei a ideia de saber o verdadeiro nome das coisas e pessoas ser o segredo da magia em Terramar, me pareceu ser um detalhe importante da trama e me deixou curiosa pra saber o que aconteceria caso alguém descobrisse o verdadeiro nome do protagonista.
    Beijos!

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  6. Olá José...
    Parabéns por essa resenha impecável!
    Eu confesso que não sou uma fã alucinada de fantasia, por conta disso, esse livro não me chamou tanta a atenção mesmo gostando muito da capa e da premissa. Entretanto, anotei a sua dica e vou passá-la para o Julio e para a Ana do blog... tenho certeza que vão adorar.

    beijos
    Mayara
    Livros & Tal

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  7. Oie!
    Eu ainda não li o livro, e estou bem curiosa com a leitura. Ele está aqui na pilha e será uma das próximas leituras que vou fazer.
    Espero gostar desse livro de fantasia.
    Bjks!
    Histórias sem Fim

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  8. Eu amo fantasia, e até então só conhecia o A mão esquerda da escuridão dela, e confesso que é um dos melhores livros que já li na vida. Esse eu quase comprei dias atrás, ma faltou a grana. Mas pelo que você conta aqui é excelente. E se eu já queria agora então, estou desesperada pra ler. Amei a dica.

    ;D
    Nelmaliana Oliveira

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  9. Eu li recentemente uma resenha do livro que era completamente o oposto da sua. Então, gostei muito de encontrar sua opinião por dois motivos: primeiro porque não sou a maior fã de fantasia, mas a capa e a sinopse me chamaram a atenção e me deixaram curiosa. E depois... Saber que o livro pode sim ser uma boa leitura, me deixou com muita vontade de conferir o que eu irei achar da escrita da Ursula. Vai que é ela a me convencer a não parar de ler fantasia???
    Beijinhos,
    Lica
    Amores e Livros

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  10. Oi José!
    Eu não conhecia esse livro até ele ter sido lançado aqui no Brasil esse ano. É bem surpreendente quando descobrimos livros tão bons, de um gênero que hoje principalmente faz tanto sucesso e que foi escrito em 1968... É inacreditável a quantidade de clássicos ótimos que existem por ai e nem conhecíamos. Histórias que lemos todo dia e que já tinha sido publicado há +- 50 anos.
    Como gosto bastante de livros de fantasia, tenho bastante curiosidade a respeito desse, principalmente por ser já um clássico e por te algumas características mais avançadas para o tempo em que foi escrito. Como ter personagens negros e mostrar magos mais jovens.
    Com certeza irei ler - o único problema é que o tempo que demorará para chegar aqui no Brasil os outros volumes.
    Bjss

    http://umolhardeestrangeiro.blogspot.com.br/2016/10/literatura-brasileira-de-verdade-trama.html

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  11. Olá José,
    estou muito curiosa com relação a esse livro, pois acho a temática extremamente interessante tanto pela época em que foi escrita quanto pelos paradigmas que foram quebrados por conta dos personagens negros. Adorei saber que o universo é rico e que a história te agradou. Tenho certeza que a probabilidade de gostar da história é grande.
    A única coisa que me impede de ir à livraria comprar o livro é saber que ele tem continuação, preciso de todos ao mesmo tempo para devorar sem dó.
    Beijos

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  12. Oi José, Terramar não me empolgou como empolgou você. Eu não consegui me conectar com o enredo, achei-o parado demais, sei lá. Mas como é o primeiro, vou ler a sequência para ver o que acontece. Fiquei surpresa também ao perceber as características físicas dos personagens. Outra coisa que gostei foi este lance de que todos somos bons e maus.
    Bjs

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  13. Oi, José!
    Não sabia que esse livro era um clássico, já havia visto alguns comentários e resenhas sobre ele, mas nunca fiquei tão interessada na leitura. Até gosto de fantasia e aventura, mas faz tempo que não leio algo do gênero, tenho visto alguns livros parados na minha estante sobre o tema e venho pensando em fazer algum tipo de maratona para voltar a ler as fantasias, talvez eu encaixe esse livro nas leituras futuras. :)

    Beijos,

    Rafa [ blog - Fascinada por Histórias]

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